Eu nunca vou esquecer aquele show. Foi no dia 19 de janeiro, no teatro rival. Era noite de sexta feira, o dia foi de sol, um sol quente, mas soberano, assim como o Deus que o fez.
Mas era um dia especial. Meu pai aqui no rio, depois de quatro anos longe de casa. É verdade que ele já estava conosco desde o ano novo, e ficaria mais dez dias, mas aquele dia, Ha, aquele dia era especial.
Logo de manhã eu saí pra comprar o Jornal do Brasil, não costumo comprar jornal, mas como estou de férias, pensei que as últimas da cultura carioca me dariam algo para fazer naquela sexta. Acertei em cheio. Ao abrir a revista com a programação do final de semana carioca (que na minha opinião, inclui a sexta), encontro o anúncio mais que perfeito para aquela mais que perfeita sexta-feira; show do boca livre (grupo formado em 1979; hoje com a formação atual de Maurício Maestro, Zé Renato, Fernando Gama e Lourenço Baeta).
Falei na hora com minha mãe, meu pai estava na rua, caminhando. Eu sabia que não poderia perder aquela oportunidade. Na hora minha mente viajou uns 19 anos atrás, e voltei aos dias nos quais eu dormia, ou fingia que dormia, no colo do meu pai enquanto ele cantarolava, imitando todos os trejeitos dos caras do boca livre, desde os agudos até o estilo de voz. “Ponta de Areia” era o hit principal das minhas sonecas.
As canções desse grupo nortearam toda a minha infância. A razão não era o meu refinado gosto musical, não, era o simples fato de gostar do que o meu pai gostava, assim como a minha paixão pelo botafogo. Aliás, acho que torcer pelo botafogo é herança de família, só pode ser.
Pra mim, há um significado muito mais que musical nas canções deles, é uma mistura de saudosismo, infância, e lembrança das coisas que me trazem esperança (Lm 3:21). Eu lembro do carinho do meu pai, da forma como ele me conduzia ao sono sem se preocupar com o tempo que isso levaria, afinal, fica difícil saber quem gostava mais daquilo. Ás vezes eu segurava o sono só pra ficar mais uns minutinhos ouvindo seu canto desafinado.
Nós fomos. Saímos correndo, porque eu, como sempre, atraso todo mundo. Chegamos ao teatro, sentamos, pedimos refrigerante; eu, coca, óbvio, e ele, guaraná. As palavras eram poucas, sempre foi assim. Não falamos sempre e essa noite dispensava palavras. (Essa coisa de ter que falar me deixa confuso. Ter sempre que dizer algo é cair na ilusão de que nossas palavras sempre dirão o que queremos expressar, e isso não é verdade. Ás vezes, dizemos e fazemos diferente, e aí, o que fazemos pode anular o que dissemos. Não deixe de falar. Fale, mas faça.)
Desde o início eu sabia que aquela noite valeria todos os dias que passaríamos juntos nessas férias. Nenhum outro dia seria igual. Nenhum outro dia deixaria tão á flor da pele as nossas lembranças e a nossa alegria, de juntos, revivermos aquilo que foi marco nas nossas vidas, o amor, quase que incondicional, que existe entre nós dois. Foi sensacional, lembro até hoje de cada detalhe.
Ontem, dia 29, ele voltou pra Espanha. Senti um vazio enorme ao chegar em casa e não ter mais ele por perto. Mas eu me lembro do dia no qual ele foi pela primeira vez, e lembro do dia 31 de dezembro de 2006, quando o vi voltar. Lembro disso, que me dá esperança, e lembro que esse show só rolou porque Deus assim permitiu, a Ele, a glória.
Daniel Bravo
Mas era um dia especial. Meu pai aqui no rio, depois de quatro anos longe de casa. É verdade que ele já estava conosco desde o ano novo, e ficaria mais dez dias, mas aquele dia, Ha, aquele dia era especial.
Logo de manhã eu saí pra comprar o Jornal do Brasil, não costumo comprar jornal, mas como estou de férias, pensei que as últimas da cultura carioca me dariam algo para fazer naquela sexta. Acertei em cheio. Ao abrir a revista com a programação do final de semana carioca (que na minha opinião, inclui a sexta), encontro o anúncio mais que perfeito para aquela mais que perfeita sexta-feira; show do boca livre (grupo formado em 1979; hoje com a formação atual de Maurício Maestro, Zé Renato, Fernando Gama e Lourenço Baeta).
Falei na hora com minha mãe, meu pai estava na rua, caminhando. Eu sabia que não poderia perder aquela oportunidade. Na hora minha mente viajou uns 19 anos atrás, e voltei aos dias nos quais eu dormia, ou fingia que dormia, no colo do meu pai enquanto ele cantarolava, imitando todos os trejeitos dos caras do boca livre, desde os agudos até o estilo de voz. “Ponta de Areia” era o hit principal das minhas sonecas.
As canções desse grupo nortearam toda a minha infância. A razão não era o meu refinado gosto musical, não, era o simples fato de gostar do que o meu pai gostava, assim como a minha paixão pelo botafogo. Aliás, acho que torcer pelo botafogo é herança de família, só pode ser.
Pra mim, há um significado muito mais que musical nas canções deles, é uma mistura de saudosismo, infância, e lembrança das coisas que me trazem esperança (Lm 3:21). Eu lembro do carinho do meu pai, da forma como ele me conduzia ao sono sem se preocupar com o tempo que isso levaria, afinal, fica difícil saber quem gostava mais daquilo. Ás vezes eu segurava o sono só pra ficar mais uns minutinhos ouvindo seu canto desafinado.
Nós fomos. Saímos correndo, porque eu, como sempre, atraso todo mundo. Chegamos ao teatro, sentamos, pedimos refrigerante; eu, coca, óbvio, e ele, guaraná. As palavras eram poucas, sempre foi assim. Não falamos sempre e essa noite dispensava palavras. (Essa coisa de ter que falar me deixa confuso. Ter sempre que dizer algo é cair na ilusão de que nossas palavras sempre dirão o que queremos expressar, e isso não é verdade. Ás vezes, dizemos e fazemos diferente, e aí, o que fazemos pode anular o que dissemos. Não deixe de falar. Fale, mas faça.)
Desde o início eu sabia que aquela noite valeria todos os dias que passaríamos juntos nessas férias. Nenhum outro dia seria igual. Nenhum outro dia deixaria tão á flor da pele as nossas lembranças e a nossa alegria, de juntos, revivermos aquilo que foi marco nas nossas vidas, o amor, quase que incondicional, que existe entre nós dois. Foi sensacional, lembro até hoje de cada detalhe.
Ontem, dia 29, ele voltou pra Espanha. Senti um vazio enorme ao chegar em casa e não ter mais ele por perto. Mas eu me lembro do dia no qual ele foi pela primeira vez, e lembro do dia 31 de dezembro de 2006, quando o vi voltar. Lembro disso, que me dá esperança, e lembro que esse show só rolou porque Deus assim permitiu, a Ele, a glória.
Daniel Bravo